Por que será que hoje gostamos tanto de reality shows na cozinha?

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Lá em 2008, antes mesmo de Paola Carosella ou Carlos Bertolazzi aparecer em nossas televisões, Ana Maria Braga se arriscou à colocar em seu programa algo que na Globo só se via em competições de confinamentos ou em ilhas desertas e matas fechadas: o Reality Show. Estreava no Mais Você o Super Chef.

Alguém se lembra? Foram 3 edições em que os participantes ficavam em um semi confinamento, morando em um hotel, participavam de treinamentos e aulas com grandes chefes brasileiros. À cada semana, um participante era eliminado na votação da Panela de Pressão.

Logo depois, Ana Maria arriscou o Super Chef Celebridades, por mais três edições, totalizando seis anos consecutivos com o formato em seu programa. As três últimas edições eram realizadas por artistas do próprio canal, e seguia o mesmo regulamento da edição com anônimos. Mesmo no ar de 2008 a 2014, o programa não movimentou as redes sociais como fazem hoje o MasterChef e o Cozinha Sob Pressão. Por um bom período, entende-se que a própria internet ainda não tinha os meios e a interação oferecidos hoje.

Mas algo mais fez com que não nos tornássemos fãs e comentaristas da produção vespertina. Por que será que hoje gostamos tanto de reality shows na cozinha?

Hoje é legal saber cozinhar, é cool, as pessoas já adotaram as fotos de comida como parte real de seu álbum na internet. E por mais que nem todo telespectador saiba cozinhar, ele vai descobrir ali algum tempero, alguma combinação, ou alguma maneira nova de usar velhos ingredientes na cozinha. Ao invadir o horário nobre da televisão, a gastronomia deixa de lado a sua relação com programas femininos e de variedades matinais, e passa a interagir com homens, jovens, adultos e idosos.

A televisão brasileira descobriu muito tarde esta nova maneira de ganhar o seu público pelo estômago, o MasterChef original é um formato que já está no ar desde 1990, e o Brasil ainda acompanha a sua segunda edição. Não apenas um programa para ensinar receitas, os realities colocam a pressão e a disputa por algo como sustento para tanta expectativa. Não é de hoje que Palmirinha e Etty Fraser nos mostram como devemos preparar o nosso lombo assado ou o feijão tropeiro, mas em nenhum destes programas algum deles poderia perder um curso de gastronomia ou um bom prêmio em dinheiro.

A TV paga já conhece a parceria entre realities e gastronomia há alguns bons anos. Chopped, TopChef, Hell’s Kitchen e MasterChef colocam os seus participantes para disputar um prêmio entre si. Já Kitchen Nightmares, Hotel Hell e Bakery Boss são responsáveis por salvar os empreendimentos dos participantes, seja um restaurante, um hotel ou uma confeitaria. Estes programas nos colocam cara a cara com aquilo que mais fazemos e menos entendemos, Comer. Comemos durante várias vezes por dia, sabemos que isto é a atividade principal do nosso dia-a-dia, e mesmo assim não somos especialistas no assunto.

Esta nossa falta de conhecimento sobre gastronomia, junto à nossa vontade de opinar sobre o que os outros fazem, permite que semanalmente nossas timelines e redes sociais compartilhem posts, comentários e brincadeiras com o MasterChef ou o Cozinha Sob Pressão. “Como assim essa pessoa fez um purê com banana da terra?” “Nossa, ela é muito lerda, não conseguiu até agora soltar esse macarrão do jeito que o chefe pediu”. “Eu não teria a menor ideia do que fazer com esses frutos do mar, só conheço o camarão dessa lista ali”.

Somos guiados pelo novo, por aquilo que a gente não conhece mas tem vontade de aprender. E devemos muito aos jurados destes programas, que são responsáveis por transmitir ao telespectador o cheiro, a textura e o sabor. Dessa maneira, cada um em seu sofá conseguirá imaginar um pouquinho de como aquele prato está na hora em que foi servido. “Quem sabe não arrisco isso no almoço domingo?”. Somos guiados pelas competições, em ver como um participante pode ser melhor que o outro tendo as mesmas ferramentas disponíveis. Ou melhor, como um participante conseguirá superar o outro desempenhando papéis diferentes, carregando conhecimento e cultura diferentes.

O brasileiro demorou a descobrir os realities de culinária, mas tomou gosto da coisa. E não pense você que acabou por aí não. O SBT já prepara a sua versão de The Great Bake Off, sucesso em mais de 20 países. Neste programa, o objetivo é encontrar o melhor confeiteiro amador do País. A Record tem uma carta na manga com Buddy Valastro e a possibilidade de um programa para o segundo semestre de 2015, onde ele escolherá um gerente para a sua Carlo’s Bakery Internacional, no Brasil. E se você ainda acha pouco, o GNT tem este ano três competições; The Taste Brasil, Food Truck: A Batalha e Que Seja Doce.

A gastronomia virou entretenimento, e as emissoras parecem ter descoberto como tornar comida algo divertido, empolgante e ao mesmo tempo, competitivo, a receita certa para uma boa audiência.

Fonte: Brasil Post
Blog do Dudu Guimarães

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